Por muito tempo, a figura do produtor musical foi deixada à margem da cena do rap, com o destaque limitado ao MC. Freitera, produtor e beatmaker, tornou-se uma voz importante para reverter esse quadro. Seu ativismo surgiu ainda no início da carreira, quando percebeu a desvalorização dos profissionais responsáveis pela criação das batidas e atmosferas essenciais do gênero.
“Havia três grandes problemas: o MC era o único valorizado, enquanto o beatmaker ficava de lado. Muitos artistas viam o produtor apenas como um prestador de serviços, sem reconhecer o processo criativo e artístico envolvido na produção. Além disso, havia a questão financeira: muitos beatmakers não recebiam pelo trabalho”, explica Freitera sobre o reconhecimento da profissão.
Em 2024, o artista mudou esse olhar para a própria carreira. Ao lançar o seu primeiro álbum autoral, o “Psicodelia Rap Dub Urbana”, o produtor fincou sua estética e alcançou marcas expressivas, como o número de 1,3 milhão de ouvintes mensais no Spotify. O álbum apresenta uma narrativa construída pela linearidade das produções e transita por estilos como rap e dub.
A luta de Freitera não se limitou a sua própria condecoração, mas também visou abrir portas para outros beatmakers e produtores. Ele lembra das dificuldades enfrentadas no início, quando muitos cantores e produtoras se recusaram a creditá-lo como artista. No entanto, com o tempo, o reconhecimento veio. “Foi difícil no início. Muitas portas se fecharam. Alguns MCs e produtoras recusaram-se a me creditar como artista. Mas, com o tempo, o reconhecimento veio, e isso não ficou só comigo. A valorização começou a alcançar outros produtores próximos a mim. Hoje, vejo como essa luta foi importante”, revela.
Freitera também destaca a diferença entre produções mais técnicas, em que o beatmaker segue a visão do artista, e as produções mais autorais, nas quais ele mesmo cria e compõe. “A maior parte do que temos no rap é feita por produtores que também são artistas. São eles que compõem e criam atmosferas únicas nas faixas. Mesmo sem cantar, conseguem se expressar e comunicar tanto quanto o MC, por meio da música”, acrescenta.
Desde a infância, Freitera sempre teve uma forte ligação com as artes visuais, mas foi na música que encontrou sua verdadeira forma de expressão. O artista começou a tocar em bandas de rock e metal, até que se deparou com uma verdadeira paixão: o rap. Em 2018, teve o primeiro momento de destaque na carreira, quando lançou a faixa “Desculpa Doutor”, em parceria com o rapper San Joe. A parceria acumula mais de 90 milhões de reproduções no Spotify e ultrapassou 65 milhões de visualizações no YouTube.
“Naquela época, lembro de comentar com amigos: ‘Se eu morresse hoje, estaria feliz. Fiz algo que reflete minha sonoridade’. Hoje percebo que era só o começo, a ponta do iceberg”, diz. Para 2025, o artista se prepara para prosseguir com o movimento de carreira que iniciou com o álbum “Psicodelia Rap Dub Urbana”, expondo cada vez mais a sua identidade como artista.
“Atualmente, já desenvolvi muitos trabalhos que me fazem sentir que finalmente encontrei minha verdadeira identidade musical, que é algo mais focado no underground misturando sonoridades como dub, trip hop, boom bap e afins.”, reflete o produtor sobre sua trajetória na música.