“Quantas vezes você já foi amado?” – Esta indagação é o título do terceiro álbum de estúdio do cantor e compositor Baco Exu do Blues. “Eu sinto tanta raiva que amar parece errado”. O primeiro verso da introdução da nova obra de um dos principais nomes da cena contemporânea já diz muito sobre o tema.
O disco fala da forma de um homem preto receber e dar afeto. Nunca Baco Exu do Blues foi tão Diogo Moncorvo como nas doze faixas que compõem o disco que chega nesta quarta através do selo 999 com distribuição da Altafonte.
Nele, o eu-lírico lembra suas dores e amores com rimas que prometem hipnotizar o público. Exu do Blues está de volta e com todo coração, explicitando as formas do povo preto expressar sentimentos. Produzido por Marcelo Delamare, QVVJFA traz beats de JLZ, Dactes e Nansy Silvvz. O resultado é uma avalanche de sentimentos e musicalidade, bem ao estilo de Baco Exu do Blues.
O álbum traz feats com Gal Costa, Vinicius de Moraes (em samples), Gloria Groove e Muse Maya. E ainda trechos de Batatinha e Originais do Samba, além de áudios de personalidades da música da Bahia como Ravi Lobo do Rap Nova Era, JF e Polêmico da Banda O Metrô e o ator Leandro Ramos. Tudo com o dendê de Exu e o talento de Baco. Aliás, a religiosidade africana é tema em destaque no disco. Parece que o cantor se encantou pelas entidades para entender o melhor sentido do amor.
“‘Quantas vezes você já foi amado’ é uma pergunta que deixa todo mundo desconfortável. No meu caso, eu fui amado várias vezes, mas fui pouco ensinado a receber esse amor. Isso fez parecer que quase nunca fui amado porque o amor é um ciclo que só se completa quando uma pessoa está te entregando aquilo e você consegue receber e passar de volta de alguma forma. Comigo foi sempre diferente. Eu sentia que as pessoas estavam jogando aquele amor, aquele afeto em mim, mas eu não conseguia sentir 100%. Ficava desconfiado pela trajetória de vida que tenho”, desabafa o artista.
Para ele, uma das coisas mais impactantes para este disco foi ter sua morada de volta em Salvador. “Foi muito importante para toda essa releitura da minha vida, dos caminhos que escolho, do processo que foi ser, criar e entender Baco Exu do Blues. Ao voltar pra minha cidade eu voltei à minha infância, minha adolescência e comecei a me questionar sobre algumas coisas. Uma delas foi a minha relação com o afeto, com a raiva, com o ódio, com o amor. De onde vinham e como foram se estabelecendo essas conexões na minha vida”, explica Baco.
QVVJFA traz um Baco amadurecido, revisitando de forma mais profunda questões que já tinha tentado revisitar outras vezes, mas ainda sem achar solução. “A estética musical é uma parada única. Remete a todo tempo ao Brasil e a Salvador. É muito música brasileira, mas ao mesmo tempo é muito música eletrônica. No final das contas é música negra, caminha por todos os lugares”, define.
Este é o terceiro álbum da carreira de Baco Exu do Blues – além de singles é um EP. E tem bem uma mistura dos antecessores “Esú” e “Bluesman”, com quem Baco empilhou uma série de prêmios nacionais e internacionais, incluindo Cannes. O já anunciado “Bacanal”, que o cantor adiou o lançamento por conta da pandemia vai chegar depois de Baco fazer cada um se olhar, se questionar e se emocionar perguntando: “Quantas vezes você já foi amado”?