“Estamos assistindo a tudo paralisados/Enquanto tudo que é puro e belo é destroçado/Empresas nos consumindo com o aval do Estado/Trocando encontros de alma por lógica de mercado”, assim canta Piteco, no refrão de “O show da vida fake”, música que acaba de lançar e já está disponível em todas as plataformas digitais. A canção é um grito e uma forte crítica à inércia de pessoas que acreditam que estão fazendo muito apenas em postar algo nas redes sociais e ao atual governo que apoia à violência contra o cidadão.
“Essa letra nasceu de um sentimento de impotência diante de vários fatos bizarros e extremamente violentos que acontecem diariamente no Brasil. E da percepção de que nós, tanto como sociedade quanto como indivíduos, estamos doentes e já perdemos a capacidade de nos chocar com esses fatos. O máximo que conseguimos é compartilhar nas redes sociais e demonstrar nossa indignação em um story que irá morrer em 24 horas. Essa música representa o meu grito de indignação e socorro“, conta Peter Moreira, o artista por trás de Piteco.
“O show da vida fake” estará no primeiro disco, intitulado Beta, que está previsto para sair em 2022. O nome é uma provocação em relação aos primeiros lançamentos, para cada software que sai no mercado, há sempre uma versão beta ou uma versão de testes. Segundo Piteco, o álbum trará várias experimentações musicais, especialmente eletrônicas. Algo que vemos timidamente nesta nova canção, que tem influência de artistas admirados por Piteco, como Planet Hemp, Rage Against the Machine, Chico Science e todo o movimento Manguebeat.
“Penso que Black Alien e BNegão, junto do Chico Science são os grandes profetas da minha geração. Hoje em dia sou muito influenciado pelo rap brasileiro, porém as bandas do movimento manguebeat sempre foram uma grande influência pra mim. Tanto o Chico e a Nação Zumbi, a banda Eddie, O Fred 04 e Mundo Livre S/A. Outras bandas de extrema importância foram O Rappa e sem dúvida o Planet Hemp”, revela Piteco.
Na letra, Piteco também reconhece os próprios privilégios de ser um homem branco e hétero e trata da violência que afeta mais as ditas minorias.
“Eu não consigo ver tamanha violência, preconceito e desigualdade e viver tranquilo, como se nada estivesse acontecendo. Dói na minha alma ver pessoas vivendo na rua, sem ter o que comer, pessoas sendo discriminadas, violentadas e mortas pela cor da sua pele, por sua orientação sexual, por suas ideias e posições políticas. E saber que praticamente metade da população do seu país apoia esse tipo de coisa, pra mim é extremamente indigesto. Hoje em dia, mesmo sendo considerado branco, hétero, cis, dizer as coisas que eu disse nessa música é perigoso, posso receber ameaças. Nesse sentido, nada está tão longe quanto parece“, explica Piteco.
A música vem com lyric vídeo, foi mixada e masterizada por Guilherme Chiappetta e a produção musical foi feita por Otavio Madureira, o “Madu” da banda Machete Bomb.